segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

História da Júlia

Conto 1

Para Júlia, aquela era mesmo uma situação inusitada que se tornava comum. Ela não transava com estranhos, mas desde que havia invocado aquela entidade, não havia feito mais nada do que transar com desconhecidos. Ainda que tivesse achado em um momento anterior que era uma situação para moças que não se davam ao respeito, agora ela não sabia mais o que pensar.

O quarto era barato e tinha cheiro de naftalina. As mãos de Júlia tinham sido amarradas na cabeceira da cama e seu corpo estava nas mãos daquele estranho cujo nome era Paulo ou Francisco, ela não conseguia lembrar agora. Seu nome não era importante, ele só tinha que fodê-la e fazê-la gozar, assim a entidade estaria satisfeita.

Se a entidade ficasse satisfeita, ficaria mais tempo com Júlia. Ela não sabia quando foi que criou sua dependência com a entidade, só sabia que a ideia de estar sozinha não a deixava feliz e que preferia sempre estar na companhia do ser de beleza estonteante.

— Você gosta assim, não gosta, vadia?

O homem falou, sua voz um pouco rouca, cheia de paixão. Júlia não respondeu. Fora obrigada a chupar o pau dele naquela posição e amarrada como estava, não havia meios de fugir. Em outro momento, ela teria chupado com vontade, mas estava começando a pensar que não gostava daquele homem. Ele tinha um jeito nojento, havia algo nele que a irritava em vez de excitá-la. Enquanto sua mente pensava isso, seu corpo reagia de forma oposta.

— Ruivinha gostosa... — Ele disse, ajoelhado na cama, sua mão abrindo as pernas dela, seus olhos devorando-a.

Um gemido escapou dos lábios dela. Embora não gostasse do homem, seu corpo traidor estava ansioso por ele. Ela virou os olhos e fitou a entidade. Sentada numa cadeira, próxima da cama, estava ela. Brunhilde, como mesmo se apresentou, dona de cabelos loiros e volumosos, olhos cinzentos, rosto de beleza sobrenatural, perfeitamente esculpido, perfeitamente desenhado. Qualquer um que olhasse pra ela veria que não se tratava de uma humana, humanos jamais teriam a perfeição daquelas curvas. Os lábios vermelhos estavam curvados num sorriso de satisfação e Brunhilde olhava com atenção, os olhos cinzentos brilhantes, concentrados no que acontecia na cama. Ela usava uma tiara com suas pequenas asas, feita de penas macias. A pele branca estava livre de qualquer marca, com exceção das duas marcas em forma de estrela que ela ostentava nos ombros. Usava apenas um espartilho branco, ajustado a sua cintura esguia. Os seios altos e bonitos estavam a mostra, empurrados para cima pelo espartilho, dando a impressão de serem maiores, quase pesados. A calcinha pequena quase não escondia nada, de uma renda branca delicada e que fazia qualquer um olhar e desejar tirar. As coxas estavam a mostra e perto dos joelhos sumiam, escondidas pela bota de cano alta branca.

Brunhilde tocou os lábios, mordendo levemente o dedo quando o homem enfiou os dedos entre as pernas de Júlia. O homem olhou para trás, para Brunhilde, quando viu os olhos escuros de Júlia naquela direção.

— Você gosta de vê-la ser fodida, não é? — Ele disse e deu um sorriso. — Eu vou fazer ela esquecer que você existe...

A entidade olhou para ele, como se o estivesse apenas notando agora sua presença. Ela ergueu levemente a sobrancelha, como se duvidasse das palavras dele. Brunhilde não respondeu, ela apenas mordeu o dedo, talvez ansiosa.

— E depois eu foder com você.

Aquele comentário não agradou Júlia. Cheia de um ciúme que não podia ser controlado, ela olhou com raiva para o rapaz. Ele a olhou, ainda os dedos dele a acariciando de forma vulgar, notando seus olhos furiosos.

— Ah, você não gosta que fale isso? — Ele perguntou, afundando os dedos nela. Mais uma vez, em vez de protestar apesar da raiva, um outro gemido de satisfação escapou de seus lábios. — Veja, está toda molhada e me esperando, não é querida?

— Você não vai encostar nela... — Júlia murmurou, seus olhos fechando-se, seu corpo querendo mais da invasão do dedos do desconhecido.

— Não se preocupe com isso agora. Eu tenho o suficiente pras duas.

Não teve como responder, assolada por um orgasmo. Seu corpo inteiro vibrou e homem abandonou a masturbação nela, limpando os dedos molhados no lençol de tecido ruim. Júlia olhou novamente pra Brunhilde e sentiu grande satisfação por ver a entidade estar com o dedo lindo dentro da boca. Parecia que ela estava sendo saciada e era tudo o que importava para Júlia.

O homem riu de escarnio dela e lançou um olhar para a glamourosa loira que assistia tudo. Devia ser a dona daquela putinha que ele estava comendo. Aquela mulher era muito bonita e muito mais gostosa. Não tinha dito nada desde que chegaram ao quarto, a ruiva era que cuidava de tudo. A loira somente sentou-se naquela poltrona, depois de um desfile perfeito na sua frente que o fez ficar de pau duro somente de olhar pra ela, vendo como os seios balançavam e como os quadris pareciam perfeitos para serem segurados com força durante o sexo.

Ele voltou a fitar a ruiva, amarrada na cama, os seios marcados por suas mordidas, o rosto sujo ainda de seu sêmen. As pernas estavam abertas e ele fitou a boceta dela, coberta com poucos pelos, a virilha lisinha. Vadia. Aproximou-se dela e ergueu o quadril dela, já ansioso. Mergulhou nela e como um animal, não se importou mais. Meteu com vontade, querendo rasgá-la ao meio.

Ela gemeu, e ele achou que foi de dor, mas não se incomodou. Ergueu mais o quadril e afundou-se ainda mais nela. A viu fechar os olhos com força e uma de suas mãos rastejou pelo corpo dela e se apoderou de um dos seios. Apertou com força, puxou e o enfureceu ainda mais. Vadia.

Não era bom, mas era bom. Júlia estava tragada pela sensação do sexo, odiando cada vez mais aquele homem. Ele a estava machucando. Um gemido de dor escapou de seus lábios e ela apertou os olhos, querendo aguentar firme. Era sua culpa estar naquela situação.

A dor prazerosa não podia ser bem vinda, mas era. Gemeu agora de satisfação, seu quadril movendo-se contra o do homem, escutava os murmúrios dele, mas não os compreendia. Ele não era importante. Metia tão fundo e tão forte, tudo doía, mas era bom, muito bom.

Ele logo gozou e ela não teve o mesmo prazer novamente. Os movimentos pararam antes que ela alcançasse o novo clímax. O corpo pesado dele caiu em cima do seu e ele riu do grito dela.

— Viu como eu comi sua puta? — Ele perguntou, cansado, olhando pro lado, em direção a Brunhilde.

— Saia de cima de mim. — Júlia pediu e o homem a olhou e ignorando sua palavras, deslizou a língua em sua garganta, ainda dentro dela, forçando o corpo naquela posição dolorida.

— Chama ela pra participar. Tenho certeza que ela quer que eu a coma também.

— Eu já disse pra sair de cima de mim!

O homem riu e no instante seguinte, ele voava pelo quarto, suas costas chocando-se com a parede do outro lado do quarto. Um grande estalo se ouviu quando suas costas bateram contra a parede de alvenaria barata. Ele caiu no chão inconsciente.

Júlia respirava rápido, assustada com o movimento repentino. Seu corpo relaxou, livre do homem e ela olhou para Brunhilde. A entidade parecia entediada novamente, sua mão direta no ar, mostrando a Júlia o que ela já sabia, fora ela que afastara o homem de cima de Júlia.

Brunhilde ficou de pé, mais alta e exuberante do que Júlia se lembrava. Caminhou até a cama e com outro movimento de sua mão, as cordas que prendiam os pulso de Júlia se soltaram. Só de vê-la próximo, o coração de Júlia agitava-se. Brunhilde cruzou os braços e olhou para o homem desacordado, demostrando seu desinteresse nele.

— Você está satisfeita?

A entidade moveu os olhos e fitou Júlia estendida na cama, ainda agitada pelo sexo, pelo orgasmo que não veio, pela presença do ser sobrenatural. Com suas mãos livres, Júlia abaixou os braços para uma posição confortável, esperando a resposta. Quando conseguiu, passou o lençol sujo no rosto, para retirar o sêmen seco.

A mão de Brunhilde flutuou no ar e o corpo de Júlia elevou-se da cama de forma suave. Ela fechou os olhos, deliciada com a sensação mágica. A magia a fez ficar próxima ao corpo de Brunhilde e entregue, ela passou os braços pelo pescoço da loira e sentiu os seios dela contra os seus e estremeceu, excitada.

Era também sua culpa ficar tão excitada do lado de uma mulher, ela não achava que era lésbica até conhecer Brunhilde. A entidade estava ali porque Júlia a havia invocado quando fez o ritual errado. Ainda era principiante nas artes mágicas e achou que substituir a cor de uma rosa não mudaria o ritual. Em vez de vermelha, ela colocou uma rosa branca. A entidade que deveria emergir do ritual e ajudá-la era pra ser um espirito que iria ajudá-la a conquistar o garoto pelo qual Júlia estava apaixonada havia 7 anos.

Com a mudança das rosas, Brunhilde surgiu. Ela era grandiosa por si só e Júlia acabou tendo que lidar com ela e com sua tia, a dona do livro de magias que Júlia roubou para fazer o ritual. A tia não tinha visto ainda Brunhilde e Júlia mentiu a ela, dizendo que o ritual não deu certo. A bruxa mais velha pediu pra ela nunca mais mexer em suas coisas sem autorização antes que cometesse um erro e acabasse fazendo algo que a faria se arrepender.

O resultado de sua primeira experiência com a magia deu em Brunhilde. Ainda não tinha calculado se era um grande erro e agora que a entidade estava tão próxima e que o cheiro dela invadia os sentidos de Júlia, não conseguia pensar mal dela. Júlia estava certa de que faria qualquer coisa que Brunhilde pedisse.

Isso levava a sua vida sexual com estranhos. Ela os escolhia, Brunhilde não interferia em sua escolha. Queria apenas ver Júlia sendo satisfeita e isso a satisfazia. Era um espirito do sexo, era o que Júlia acreditava.

Júlia sentiu o hálito quente de Brunhilde e sentiu os braços dela passando por seu corpo, puxando-a contra ela, esmagando-a em seus braços. A perna dela moveu-se, insinuando-se entre as pernas de Júlia.

“Não”.

— Ele não foi uma boa escolha.

“Ele não importa”.

— Você o matou? — Perguntou Júlia, seus lábios quase contra os dela, tremendo por um beijo da entidade.

“Ele não importa”.

Júlia esqueceu-se do homem quando Brunhilde beijou seus lábios com aquela voracidade que fazia sua cabeça girar. É, o homem não era importante, o que era realmente importante era sentir a língua dela dentro da sua boca, como podia causar tantas reações estonteantes. Quando o beijo terminou, Júlia gemeu de insatisfação.

— Você não está feliz não é? — Júlia perguntou.

“Não”.

— Eu vou escolher um homem melhor da próxima vez.

Disse e caiu no chão, ferindo os joelhos. A entidade desapareceu, como sempre fazia quando não estava satisfeita, deixando Júlia sozinha com o homem desconhecido que ela esperava que não estivesse morto.

(continua [de forma bizarra] tentando explicar que porra é essa...)